Promessas sem resultados: o alerta que toda clínica precisa ouvir
MARKETING ESTRUTURAL
LeMa

Outro dia, uma diretora de clínica me contou que contratou um profissional de marketing com a promessa de ter a agenda lotada em três meses. O discurso era redondo, o portfólio bonito e a proposta, tentadora. Três meses depois, a agenda seguia com buracos, e o profissional, desaparecido. Me deu aquela sensação de déjà-vu: mais uma promessa sem entrega real.
Essas histórias são mais comuns do que parecem. O marketing se tornou um campo fértil para soluções mágicas, resultados relâmpago e anúncios de “faça sua clínica crescer em 30 dias”. As palavras soam como feitiço: “escala”, “autoridade”, “crescimento exponencial”. Mas, quando o brilho do discurso passa, sobra o vazio de uma entrega que nunca se sustenta.
Talvez o problema comece antes, na pressa de acreditar. Muitos gestores se encantam com sites impecáveis e vídeos bem produzidos, mas não olham o bastidor. Quase ninguém se dá ao trabalho de pesquisar a formação dos profissionais, ver o histórico no LinkedIn ou checar o currículo Lattes, aquele documento que pouca gente lê, mas que revela o compromisso com o conhecimento.
A verdade é que entrar no mercado de marketing digital nunca foi tão fácil. Tutoriais no YouTube, cursos rápidos e promessas de renda extra transformaram qualquer pessoa em “especialista”. É o piloto de avião formado no EAD, pronto para decolar sem nunca ter sentido o vento na pista. Essa é minha tentativa de humor, mas o impacto é sério.
Ainda assim, esse movimento tem dois lados. De um, a frustração das clínicas que investem e não veem retorno. De outro, algo bonito: o empreendedorismo florescendo. A baixa barreira de entrada permite que novos profissionais comecem, testem e aprendam. Como alguém que acredita e estudou o empreendedorismo, vejo nisso um processo natural de amadurecimento do mercado. O problema não está em quem começa, mas em quem contrata sem consciência do próprio momento.
Toda clínica precisa entender em que fase está antes de decidir com quem caminhar. Às vezes, um profissional iniciante pode ser uma boa parceria, desde que haja clareza sobre o propósito e o tempo necessário para amadurecer juntos. Em outros casos, o investimento precisa estar à altura da complexidade do desafio. Esse discernimento separa decisões estratégicas de apostas impulsivas e cegas.
O que se vê, porém, é um mercado saturado de promessas e pobre em gestão de marketing. As clínicas repetem o mesmo ciclo: contratam, frustram-se, trocam de fornecedor e recomeçam. Pow! Eita! Lá vem de novo. Faltam diagnóstico, clareza e continuidade. Muitos profissionais atuam em microatividades, cuidam de postagens, impulsionamentos ou stories, sem enxergar o todo. O resultado é um marketing que se movimenta muito, mas avança pouco.
O marketing, ao contrário do pensamento leigo, não é produto de prateleira. É processo, aprendizado e conquista. Encontra oportunidades, amadurece e se refaz. Exige tempo, análise, método e constância. Quando se ignora isso, qualquer promessa de resultado rápido vira armadilha.
O erro mais comum está na vaidade administrativa. O ego quer mostrar movimento, quer aplauso, quer estar “no hype”. Mas, como lembra Ryan Holiday em seu livro O ego é seu inimigo, muitas decisões que parecem racionais nascem do impulso, disfarçado de estratégia. A clínica vê a concorrente bombando no Instagram e corre para fazer o mesmo, sem entender se aquele caminho faz sentido para o próprio contexto. O algoritmo vira bússola, e o resultado é previsível: cansaço, pouco aprendizado e impacto mínimo. Um por cento na agenda e noventa e nove no ego.
Sem diagnóstico, o marketing cai num looping de ações rasas e resultados passageiros. É como tentar medir febre com a mão na testa. Falta dados, falta interpretação, falta método. E quando não há método, o marketing se torna uma loteria.
Promessas milagrosas seduzem justamente por parecerem simples. Elas falam com a ansiedade de quem quer resolver rápido, sem esforço e pagando pouco. Mas o marketing não vive de atalhos. Requer estrutura, entrega consistente e confiança que resista ao tempo. Enquanto o oportunista gira clientes, os profissionais sérios constroem relações de longo prazo com resultados e transparência.
O milagre não está em fazer a agenda encher de um mês para o outro. Nem é milagre. É investir na construção de reputação, clareza e processos que sustentam o crescimento. O marketing que funciona é o que ensina, integra e evolui junto com a clínica.
No fim, as promessas bem embaladas podem até soar tentadoras, mas resultados reais só vêm de quem entende que o trabalho exige arregaçar as mangas, estudar, ajustar e persistir. A clínica que busca maturidade descobre que o verdadeiro milagre é ter estrutura, propósito e bons profissionais por perto.
Promessas sem resultados: o alerta que toda clínica precisa ouvir
Publicado em 17 de outubro de 2025.


LeMa é consultor e professor de marketing.
Formado em Design, com MBA em Gestão Estratégica (Univali) e Mestrado em Gestão do Conhecimento pela UFSC, dedica-se a desenvolver estratégias que unem propósito e método.
Entre uma consultoria e outra, escreve sobre marketing, inovação e comportamento empreendedor, transformando conhecimento em progresso.
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