Respeitar o Tempo do Outro: o que aprendi sobre o marketing com paciência
MARKETING ESTRUTURAL
LeMa

Já faço um adendo. Se você pensou “como assim, marketing com paciência?”, talvez tenha sentido o mesmo espanto que muitos tiveram quando Carlo Ancelotti, o atual técnico da Seleção Brasileira, escreveu o livro Liderança Tranquila. Então, te peço um voto de confiança. Vamos juntos.
Imagina a cena: um grupo de trinta adolescentes em uma disciplina de Projeto de Vida, tentando montar uma torre de espaguete no famoso Marshmallow Challenge. Eu observava de longe o entusiasmo, as risadas e a pressa de ver a estrutura de pé. Alguns queriam altura, outros queriam firmeza. A torre desabava e recomeçava.
Foi nesse desafio lúdico que percebi algo essencial, que vale tanto para a vida quanto para o trabalho com clínicas: cada pessoa e cada organização têm seu próprio ritmo de aprendizado. E respeitar esse tempo não é um detalhe, é o coração de uma organização mais humana e com base sólida.
Lembro também de uma manhã qualquer em Balneário Camboriú. Eu aguardava o início de uma reunião com uma equipe que ainda engatinhava no entendimento de marketing. Enquanto o café esfriava na mesa, percebia nos olhares a ansiedade por resultados imediatos. Queriam saber o que postar, quando anunciar, quanto investir. Eu respirava fundo e pensava: ainda não era hora de falar de métricas. Era hora de falar de maturação, de alinhamento e das definições iniciais, o porquê.
Como diz um dos meus autores preferidos, Simon Sinek, as pessoas não compram o que você faz, mas o porquê você faz. Papo para outro artigo, quem sabe.
Meses depois daquela reunião, tudo ficou ainda mais claro para mim: o tempo é um professor silencioso.
E o marketing, no meu modo de ver as coisas, tem mais a ver com cultivo do que com corrida.
A verdade é que demorei para compreender isso, e mais ainda para aceitar. No início, eu também fui impaciente. Queria acelerar resultados, ver campanhas prontas e sentir o retorno rápido. Até perceber que cada clínica amadurece em seu próprio compasso, dentro do seu contexto, localização e público. O papel de quem ensina, vestido de consultor ou assessor, não é apressar, é conduzir. E compreender que “ganhar tempo” tem significados diferentes para cada clínica.
Respeitar o tempo do outro é entender que aprendizado não se impõe, se inspira.
Esse foi o motivo real que me levou a dar aulas. Tive mestres incríveis, como o professor Marco Aurélio Soares, um verdadeiro Jedi, que me apresentou uma turma de professores inspiradores. Desde então, tenho tido a sorte de trabalhar ao lado de profissionais que ensinam com propósito e escutam com alma.
No design, aprendi a exercitar empatia. No marketing, aprendi a amplitude da empatia. Escutar antes de orientar, observar antes de sugerir e compreender antes de ajustar.
Em uma das assessorias que mais me marcaram, percebi o valor da paciência na prática. A equipe não entendia por que eu insistia tanto em registrar informações. Para eles, marketing era postar e responder mensagens. Durante meses, reforcei algo simples: anotar dúvidas recorrentes, padronizar respostas e organizar dados. Até que um dia, sem aviso, começaram a me mostrar como isso facilitava o atendimento, reduzia erros e tornava o tempo mais produtivo.
Isso aconteceu três anos antes do acesso fácil à Inteligência Artificial que temos hoje. Na época, senti o mesmo orgulho que um professor sente quando vê um aluno aprender, se encontrar e aperfeiçoar o próprio caminho. Talvez, se eu tivesse cobrado mais rapidez, teria perdido o aprendizado mais bonito: o do processo em si.
Aprender marketing é, na verdade, aprender a pensar.
E pensar exige tempo.
Tempo para questionar hábitos.
Tempo para entender o que precisa mudar.
Tempo para aceitar que nem tudo acontece no ritmo que o digital impõe.
Vivemos em uma era que glorifica a pressa, e no ambiente das clínicas não é diferente. Mas o que mais precisamos é de harmonia, de unir tecnologia e humanidade. Porque quando se fala de pessoas, onde cada detalhe envolve confiança e cuidado, a pressa é inimiga da construção sólida.
Hoje compreendo que meu papel não é empurrar, mas sustentar o processo até que o aprendizado se torne natural para a clínica. E não é simples. É nesse ponto que a cultura entra em cena, podendo ser uma ponte para evoluir ou uma barreira para avançar.
Quando uma clínica finalmente entende um conceito que antes parecia distante, é como se acendesse uma luz.
Aquele brilho nos olhos, a energia de ver novas possibilidades, transforma o processo em algo muito mais prazeroso e colaborativo. O marketing deixa de ser uma corrida contra o tempo e passa a ser uma jornada de aprendizado contínuo, onde cada passo importa.
Estamos falando de pessoas, e quando há pessoas, tudo muda.
Por isso repito: aprender marketing é aprender a pensar. E pensar exige tempo.
O tempo pode ser visto como obstáculo ou como aliado.
Quando ele é considerado na equação, o ritmo da aprendizagem é respeitado, o conhecimento deixa de ser teoria e se transforma em cultura. Esse é o caminho.
Aliás, já que falei em caminho, este texto amadureceu durante minha breve fase aqui no Rio Grande do Sul, enquanto eu olhava o jardim da minha mãe. Ela faz questão de deixar o sítio da família sempre colorido e vivo, “um lugarzinho guardado no meio do nada”.
Esse cenário me fez pensar que, no fundo, ter um marketing estruturado é como cuidar bem de um jardim. É preciso cuidar, regar, esperar, observar o crescimento e confiar no tempo.
Enquanto termino este texto, penso nas equipes que caminham comigo e em como cada uma floresce no seu tempo.
Hoje, quando alguém me pergunta quanto tempo leva para o marketing funcionar, costumo sorrir e responder:
Depende do tempo que vocês levam para aprender juntos.
Respeitar o Tempo do Outro: o que aprendi sobre o marketing com paciência
Publicado em 12 de novembro de 2025.


LeMa é consultor e professor de marketing.
Formado em Design, com MBA em Gestão Estratégica (Univali) e Mestrado em Gestão do Conhecimento pela UFSC, dedica-se a desenvolver estratégias que unem propósito e método.
Entre uma consultoria e outra, escreve sobre marketing, inovação e comportamento empreendedor, transformando conhecimento em progresso.
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